Acho que até agora, muitos não entenderam o meu ponto de vista. Não discuto o fato de ser contra ou a favor da palmada. Eu discuto o fato do Estado fazer uma lei sobre isso. Do jeito que está, daqui a pouco estão fazendo uma lei dizendo que as crianças não podem comer doces de segunda a sexta e que os pais que permitirem às crianças assistirem desenhos violentos ou com maus exemplos serão punidos e presos.
Se é certo ou errado não é a questão. Porque sempre terá um monte de gente dizendo que já foi provado que não funciona, que castigo funciona melhor, que o caminho é conversar e um monte de gente dizendo que uma palmada é muito diferente de espancar, que muitas vezes a criança é pequena demais pra entender e o risco que ela corre é grande demais. Sempre vão ter os dois lados e isso é saudável - a não ser quando um lado começa a agredir e desrespeitar o outro - mesmo verbalmente. Chama-se democracia. E essa lei não é democracia.
O debate é saudável? Super! Faz as pessoas pensarem sobre o assunto e reverem suas posições? Ótimo! Mas desde quando este é o objetivo de uma lei? Leis não devem ser feitas para suscitar discussões e sim para manter a ordem. Elas não têm o objetivo de te dizer como você deve criar os seus filhos. Se o Estado tivesse se preocupado em dar à população condições de conhecer os dois lados, os prós e os contras, seria muito menos invasivo. Afinal, ainda existe o livre abítrio. Sem contar que uma coisa não para de me martelar: e aí, como é que eles pretendem fazer com que essa lei seja cumprida? Vão colocar câmeras nas casas de todos para vigiar? E outra coisa: realmente acham que com isso vão impedir que as crianças que são espancadas de verdade todos os dias estejam a salvo?
E é por isso que trouxe aqui para o blog um texto ótimo feito pela Calu, da
Rede Mulher & Mãe. Eu ia fazer apenas uma pequena introdução ao assunto, mas como eu falo demais, acabei fazendo quase outro texto. Mas não tira o mérito do dela, de jeito nenhum. Recomendo muito!
A Lei da Palmada - Bem vinda a 1984
Por:
Calu
Desde que saiu essa história da Lei da Palmada eu tenho tentado formar minha opinião. É muito complicado avaliar imparcialmente quando a lei te proibe de fazer algo que você já não faz.
Mas acho que como mãe, como cidadã que está criando membros da futura geração, minha opinião tem que ser além do fato em si. Temos que olhar mais de perto...
Eu não fumo, mas acho a Lei antifumo um absurdo. Como não fumante claro que ficou uma delícia ir numa balada e não voltar defumada. OK. Mas essa lei simplesmente acabou com um direito maravilhoso da democracia: a Liberdade de Escolha. Não seria mais sensato uma lei que obrigasse todo estabelecimento a colocar uma placa de 1mx1m na porta dizendo: Estabelecimento Fumante ou Estabelecimento Não Fumante. Pronto, resolvido: o dono do estabelecimento pode escolher como conduzir seu negócio, e eu posso escolher aonde quero ou não quero ir. Acabar com a liberdade de escolha é um perigo!
Eu não tenho nem pretendo ter uma arma, mas no plebiscito eu votei SIM. Pelo mesmo fato: a liberdade de escolha. Como se o Estado proibindo armas fosse acabar com bandidos mais bem armados que a própria polícia. Chega de hipocrisia.
Outro exemplo: Eu jamais faria um aborto, mas acho que proibir não é solução, pois todos sabemos que acontece. A diferença é que as mulheres que não se sentem preparadas ou capazes de ter um filho estão expostas a infecções e sem apoio psicológico num momento tão difícil.
Os exemplos são muitos: eutanásia, adoçaõ por homossexuais, etc etc etc Cada vez mais o Estado quer entrar na nossa vida privada, tirar nossa liberdade de escolha, e nos dizer como viver a vida. Isso é absurdo.
Me lembro quando passou Laços de Família e saiu uma liminar que obrigava a novela a começar após as 21h pois o conteúdo era inapropriado para menores de certa idade. E a solução é um juiz determinar o que meu filho de 14 anos pode ver ou não? Será que essa decisão não é da mãe? Será que também não estamos nos acomodando com a idéia de que essas regras sejam externas? É muito fácil não ter que impor os limites. Mas deixar que o Estado faça isso é muito perigoso.
E mais absurdo ainda é acatarmos e acharmos ótimo, achando que casos como a da juiza que torturou a filha adotiva ou os casos de crianças com agulhas e pregos no corpo vão acabar com essa Lei. Não vão! Pelo menos não com uma lei imbecil como essa.
Aonde isso vai parar?
Eu digo: Podem anotar as próximas "leis" que vem por ai: proibição de comerciais de alimentos infantis, proibição de comerciais de produtos infantis at all, proibição de brinde no Mc Lanche e afins.... E por ai vai.
Meus filhos assistem Discovery Kids e pedem tudo que aparece nos intervalos. Eu digo não - esse é meu papel: ensinar que não podem ter tudo que querem. Agora a solução é proibir os comerciais??? Pra quê? Para que nossas crianças não fiquem frustradas ou para poupar as mães do papel de educar? De qualquer maneira é absurdo! Esse papel é nosso.
O mesmo vale para brindes em lanchonetes. Eles estão lá, isso não obriga ninguém a ir. Quando deve ir, se deve comprar, quando comprar ou não, isso cabe a nós decidir.E impor os limites, saber falar Não. Proibir não é solução.
Seguindo esse raciocínio formei minha opinião: acho um grande absurdo o Estado querer invadir minha casa, meus modelos de educação e me dizer como educar meus filhos. O que virá quando nossos bebês forem pais? O Estado vai criar as crianças? Eles terão cartilhas a seguir?
Quando é o limite? Estamos indo rumo a 1984.
Em 1948 George Orwell descreveu um futuro aonde o mundo seria dominado pelo socialismo e regido pelo Estado até dentro de suas próprias casas. (coincidência? I don´t think so)
Em um mundo aonde o Estado domina e nada é de ninguém, tudo o que resta de privado são os poucos centímetros quadrados do cérebro. E é aí que a batalha se desenvolve, entre o indivíduo e o Estado lutando na tentativa de controlar até a mente.
Talvéz o livro de Orwell não fosse tão ficção quanto pareceu na época. Talvez ele tenha apenas errado por algumas décadas o título de sua obra prima.